segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Onda rasa

-- Vamo, levanta daí, vem logo.

E ele continuava estirado na rede, balançando preguiçosamente, queria saber onde, porque, num dava pra ser depois?

-- Não, num dá, vem logo, vem ver o mar comigo, vem logo.

...


-- Sabe, eu não entendo você, você é muito mística. Parece que tudo tem um significado pra você. Meu deus, ficar daquele jeito por conta de uma tempestade?

Meu bem, olha a neblina, num é linda, vem descendo a serra, tomando as ruas, não é demais? Se a gente for pra praia de novo, vai ver que ela está lá, rolando rolinhos em cima das ondas.

-- Mas como é que você consegue viver assim, acreditar assim, ver o mundo assim, como se tudo tivesse um outro significado, essa história do mar ser seu pai, do mar ser sua mãe...

Só sentir, sentir, ficar extasiada de tanto sentir... o mar é enorme, pulsa, duvido que você não sinta o pulso, não voe com o vento, não escorra com a chuva e não resplandeça com o sol, não sei como é possível não sentir.

...

Ele levantou botou os chinelos e eu já tava no portão, indo rua, de tijolos sextavados, tudo muito bonito. A areia assorriscava a perna, como é que ele não podia ver?
Sentir o cheiro de ozônio, as descargas elétricas pendentes, o céu alaranjando, as nuvens armando de trás da ilha.

Era um espetáculo que se formava, as ondas rebentando baixinho baixinho, mas rápido e forte. O vento carregado de gotas de água e sal, assoviando.
Ele segurou apertando a minha mão, jurava que não me entendia. Me joguei na água quente, que é que ele queria?

...

Depois, na rede, eu via a neblina descendo a serra. Nem sei se foi dia de Natal, ou véspera de Ano Novo, sei que foi lá pelos idos do solstício, na bainha do mar, no pé da serra.
É sempre gostoso poder escorrer com a chuva e sentir o açoite do vento. Mesmo que você não entenda, mesmo que você rejeite, você sente.



sábado, 26 de dezembro de 2009

Na cadeira

Sabe, tem aqueles dias que você tem um milhão de coisas pra fazer e o que você faz é sentar e se estressar com os pensamentos torturados que preocupam sua cabeça...
-- Pois é.
Sabe, eu ando no automático, é sábado, feriado, e é muito fácil perscrutar o tédio e dizer "ando muito cansada de tudo".
No fundo é só o sábado, o fim de semana, o feriado, nem sei se estou cansada mesmo e se é de tudo. Aposto que uma fagulha de aventura me faria pular da cadeira e ir pra qualquer lugar, pra praça, pro parque ou mesmo pra estrada. Mas é cedo, e essa fagulha não aparece.

O dia, a noite, o fim de semana, é [ruim] igual.
Agora.
O problema todo é que esse tédio vem de um sofrimento presente com uma futura cura, que supostamente .... enfim, o que eu to dizendo é que eu não to melhor que aquele bando de cristãos mesquinhos que dizem sofrer hoje pra viver no céu.

Bom, eu não vou viver no céu, só no meu canto, e to sofrendo agora... mas é que mesmo desejando e tendo o que fazer, não se pode fazer tudo, a toda hora.

Daí eu sento, ué. Sento mesmo, faço cara feia e detesto o som do vizinho assobiando no quintal preparando o churrasco de pós-natal.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Let it slide

you were laughing alone

é alguma surpresa não saber o que é certo?


may-be I should leave, let it slide

esses dias tem sido cheios de miséria, medo, traições, culpas, resquícios, remnants, lua minguante resíduos lixo

muito medo

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Aquarium

waiting for my moment to come, I was
like I said...
could backpack in 2 minutes and don't miss a thing, be with you right now in that plane
dreams weren't wasted, I believe, just hold on, a couple of minutes I'll be right there with you

- I'm locking the door, hang on.

perhaps I should leave it open, but then it's too exposed
no, I don't know if I'll return, but you know I must

find me a summerhouse in the north, up north...
well, suffolk doesn't sound that bad

you know, if there is enough time and I am free from work this saturday I can get the ferry and visit you

sorry, I fell asleep in the late night train and went round again
round again round again

hope I don't miss my stop again

it's kinda boring stay here watching little gold fishes bubbling air behind the glass
I have a daughter, you know, she likes to tease the fishes by tapping at the glass.

Geografia X Biologia

excelso magnânimo Reclus, grande desenhista dos limiares do planeta - uma volta no tapete da sua revista agora ia bem
mergulharia nos seus mares de morro, diletíssimo Aziz
e até chegaria perto das suas teorias de floresta, de biomassa...

... mas che ga che ga
não me afogue meio aos macroinvertebrados bentônicos

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

quatro

me toca a quatro vozes e fala a quatro sons feito Canon em Ré de Pachelbel!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

amie

sei que não deve ser muito importante, mas você tá acordado agora?
precisava ver você... você é tão lúcido

sei lá, a gente podia passar na praia pra pescar
a essa hora da noite mesmo
a gente nem nunca foi pra praia juntos

eu sinto a falta da sua voz e da sua risada debochada
do seu rosto de blush brisado
e do seu jeito de usar pérolas delicadas

sabe as nossas cartas em espirais?
papel roxo, red hot chili peppers



ah lembra? sentar embaixo da sombra na beira do lago
tirar fotos das folhas que se debruçavam por cima da gente
andar andar andar por aquelas quadras vazias que agora...
agora bem tem a praça, o posto, os prédios...


nunca me esqueci do que você me disse uma vez
só que naquela noite eu não ouvi.

pérolas na bacia

olha, eu to usando aquelas pérolas
mandaram de lá do fundo do sonhos
me leva pra conhecer
leva pra conhecer o fundo dos seus sonhos

antes eu estava tão cansada, mas olha
essas pérolas que estou usando agora
vem do fundo dos sonhos

e tudo que eu quero agora é estar com você

domingo, 29 de novembro de 2009

rua lavada

Chove. Passou de meia noite de sábado a noite.
-- Não consigo mesmo dormir, desisto, desisto.
Levanto e vou até o computador, a tela desprotegida inflama minhas pálpebras.

-- Vem cá, vem sair, vem sentir a temperatura da noite. O ar está tão mais limpo depois dessa chuva toda. Vem sair...

Os carros deslizam silenciosos no asfalto molhado. E cada pingo de árvore um susto. Faz tempo que eu não sinto frio. E ando devagar. Sentindo o efeito de cada passo.
--Aquele moço lá longe, ele tá me esperando. Mas está tão gostoso andar aqui na rua silenciosa.
A água percolando pelas frestas das calçadas, escorregando nos bueiros, parece uma serenata de fontes de consultório médico.

Tudo novo, tudo velho lavado.
-- Mas ele tá lá, me esperando, depois de tanto tempo?

Um sorriso, pelas frestas dos cílios molhados, dos cabelos bagunçados de vento. Tanta calma no perfume de lavanda e no resíduo de álcool.
Sempre preferi lavanda a rosas, cheiro de conhaque a cerveja.
-- E por que tantos fins depois de tantos tempos?
-- Nunca tivemos um começo, isso não é um fim, é um intervalo.
-- Jamais teremos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Formigas

As formigas brotavam debaixo das telhas que recobriam o muro velho - muro do vizinho. Velho, embolorado e porcamente pintado de branco. As formigas proviam de uma casa ao lado como a inveja que se arrastava qual neblina fedorenta por toda a superfície do asfalto que corria na rua.

Foi logo depois de uma semana da mudança que tudo começou. Depois de estar tudo razoavelmente encaixado e devidamente alocado, num dia nublado de verão que elas se mostraram. A moça estendia as roupas no varal, torcendo pra que estivessem secas antes que a chuva desabasse no fim da tarde como parecia, e do nada ela olhou pra parede do muro.
Um filete escuro descia, era água suja residual que ainda escorria das telhas? - Chegou mais perto, aqueles insetos de fogo sem asas fervilhavam na ordem que lhes é habitual.
-- Iiii, dizem que quando começa dar formigas na casa é porque as pessoas não vão parar ali. Será que a gente nunca vai ter paz num lugar? - a voz da dona da casa falou da janela da cozinha.
-- Não sei, não sei, é que a casa do vizinho é velha e mal cuidada.

Uma semana depois ela pegou o chocolate alemão escondido no guarda roupas e quando deu a primeira mordida no bloquinho tirado com todo cuidado - como fazer um chocolate bom durar mais - o gosto ardido incômodo pinicou a lateral da língua.
"Mas não tinham formigas antes aqui no quarto, muito menos no guarda-roupa, perfumado e limpo. Mesmo quando escondia doces no guarda-roupas, nunca elas invadiram assim meu espaço."
Tirou tudo do armário e elas estavam escondidas atrás do vidro de perfume antigo que a moça guardava como artigo de colecionador.

Outro dia era dentro das partituras, entre as teclas do piano, debaixo dos golfinhos esculpidos em pedra-sabão.

Formigas
d ....................................................................... a parede
e ....................................................................... do lado d
s ....................................................................... o espelh
c ....................................................................... o no ban
e ....................................................................... heiro sai
n ....................................................................... ndo do n
d ....................................................................... ada des
o ...................................................................... a p a r e c e n d o ... . .
...................................................................... por um buraco do acabamento de gesso decorado

-- Você acha que a gente vai continuar por muito tempo nessa casa?
-- A - cho que não, não. Tem muita formiga. Tem formiga até dentro do armário.
...
Sei que eu não fico por aqui.

sábado, 17 de outubro de 2009

Sarau Espaço 7

Nada mais clássico crasso crássico
que um poema numa folha de
............................ guardanapo

Num lugar onde dispõe-se da liberdade
de clipar folhas de Matisse entre folhas de janela
............................ só pra criar um clima

O que serve de apoio para uma taça
de vidro de segunda categoria
............................ com vinho tinto.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Peneira de sonhos

Tem tanta coisa que fica perto do ar, no limiar. Na linha de luz que fica entre o céu e o mar, lá longe no horizonte. (O horizonte lembra a borda de um prato de sopa.)

Tem tanto sonho que fica pra trás. Daí aparece um vendaval e uma peneira de areia grossa e os sonhos podem ser pinçados e catados de volta, de volta pra nossa bolsa a tiracolo.

Levo meus sonhos a tira colo. E sempre estando certa que não tem nenhum rasguinho no fundo da bolsa.

Sempre tem aqueles sonhos rebeldes que pulam pra fora, voam, querem brilhar fora da minha bolsa surrada.

Mas sempre tem o vento e a peneira.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Deságua

Está caindo o mundo aqui. Um dia, eu queria ficar junto com você enquanto a chuva cai forte como hoje.
Silêncio.
Tanta paz...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

noite de inverno

uma cadeira sentada
caneca tomada
todas as luzes incandescentes acesas
- brancas não, frias
janelas cerradas, vidros vedados

a cama vazia, a vela acesa, as leituras e o copo de vinho
esperam
esperam
esperam
o sono chega e o telefone não toca

o cheiro do chocolate com leite faz a noite se revolver

domingo, 20 de setembro de 2009

When the hounds of spring

When the hounds of spring are on winter's traces,
......... The mother of months in meadow or plain
Fills the shadows and windy places
......... With lisp of leaves and ripple of rain;
And the brown bright nightingale amorous
Is half assuaged by Itylus,
For the Thracian ships and the foreign faces,
........ The tongueless vigil, and all the pain.

Come with bows bent and emptying of quivers,
........ Maiden most perfect, lady of light,
With a noise of winds and many rivers,
........ With a clamor of waters, and with might;
Bind on thy sandals, O thou must fleet,
Over the splendor and the speed of thy feet;
For the faint east quickens, the wan west shivers,
........ Round the feet of the day and the feet of the night.

Where shall we find her, how shall we sing to her,
........ Fold our hands round her knees, and cling?
O that man's heart were as fire and could spring to her;
........ Fire, or the strength of the streams that spring!
For the stars and the winds are unto her
As raiment, as songs of the harps-player;
For the risen stars and the fallen cling to her,
......... And the southwest-wind and the west-wind sing.

For winter's rains and ruins are over,
........ And all the season of snows and sins;
The days dividing lover and lover,
........ The light that loses, the night that wins;
And time remembered is grief forgotten,
And frosts are slain and flowers begotten,
And in green underwood and cover
........ Blossom by blossom the spring begins.

The full streams feed on flower of rushes,
......... Ripe grasses trammel a travelling foot,
The faint fresh flame of the young years flushes
......... From leaf to flower and flower to fruit;
And fruit and leaf are as gold and fire,
And the oat is heard above the lyre,
And the hoofed heel of a satyr crushes
........ The chestnut-hust at the chestnut-root.

And Pan by noon and Bacchus by night,
........ Fleeter of foot than the fleet-foot kid,
Follows with dancing and fills with delight
........ The Maenad and the Bassarid;
And soft as lips that laugh and hide
The laughing leaves of the trees divide,
And screen from seeing and leave in sight:
........ The god pursuing, the maiden hid.

The ivy falls with the Bacchanal's hair
........ Over her eyebrows, hiding her eyes;
The wild vine slipping down leaves bare
........ Her bright breast shortening into sighs;
The wild vine slips with the weight of its leaves,
But the berried ivy catches and cleaves
To the limbs that glitter, the feet that scares
........ The wolf that follows, the fawn that flies.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Orquidário

Nada que queria, aquela hora eu pensei que queria era bolinho de chuva e chá, muito chá. Queria chuva talvez. Mais chá.
É tudo tão quentinho aqui. Quietinho. E a música toca.
Deito a cabeça no travesseiro de espuma vazada... e escorrego na madeira encerada. Areia molhada, folhas de hera, pés de jaca.
Pavimento de pedrinhas, pavimento de placas, poço tampado, penas de pavão, gansos cruzando grasnando. Araras. Borboletas. Eu não lembro se já então elas me assustavam.
Guarda-sol azul marinho. Suco de laranja com maçã e beterraba.
Valeu tudo isso?

A baleia de pedra. O trepa-trepa colorido. O barulho do mar. Cheiro de maresia. Expresso com chantilly.


E as caixas de sapato empilhadas no porto.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Arte

Uma caixa de lápis de cor e uma parede branca fazem qualquer criança feliz.
Ela e eu também.

Flores da saudade

Começou aquela manhã. Uma promoção incrível no supermercado: sabonete preferido pela metade do preço! Precisava. Comprei um só, se tivesse levado mais dinheiro comprava mais. Escolhi uma fragrância não habitual: "Flores da Primavera".
Já de noite - era domingo, cheio cansativo e modorrento - a água escorria mesclada a espuma do sabonete. A saudade veio com o perfume.

Saudade... tentei lembrar da saudade...

A roupa esperando sobre a cama, o copo de nutella pela metade de dry martini, o banheiro da república, do apartamento, da outra república, da casa onde eu tomava banho novamente.

Um tempo só meu aquele tempo - expectativa e bolo de chocolate com cereja, dry martini com cereja, correr os corredores da cidade nas noites quase mornas da primavera.

"For winter's rains and ruins are over;
....... And all the season of snows and sins;
The days dividing lover and lover,
....... The light that loses, the night that wins;
And time remembered is grief forgotten,
And frosts are slain and flowers begotten,
And in green underwood and cover
...... Blossom by blossom the spring begins."


Inalei fundo a fragrância que desprendia do sabonete - o cheiro residual do álcool utilizado no processo de fabricação me lembrou as faxinas de terça-feira.

Aquele banho estava era rendendo para a companhia paulista de força e luz.




sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre Cartas

O belo fere meus sentidos
a cada nota que chega a meus ouvidos
A harmonia de cada nota crescente
em conflito com o Universo decadente...

Um conflito tão paradoxal equilibrado
objeto de obsessivos estudos e delírios
de seres céticos incompletos
a tudo que é mistério e improvável

Por todos aqueles que não se calam
Diante de respostas e teorias comprovadas
Por todos os que questionam e pesam
a própria essência na medida das estrelas

Alça voo agora um lamento
de uma alma perdida visionária
reflete-se para sempre num momento
dele a imagem materializada

Seja belo e digno do progenitor encontrar
além das tempestades de Órion
multiplique-se em ecos difusos
alcançando as fronteiras do eneágono.

Simetria enevoada e negra, viva, em expansão
que exige retrados pintados em sangue
tal como a filósofos e alquimistas, seja, em meu coração
Vossa voz uma aguda constante

Caído o báculo do hierofante
seja o mundo lapidado qual diamante
e sobre o pano negro do prisma sideral
veja gravada a poesia do ventre atemporal

Na luz do céu do Mensageiro
leia a virgem e derrame
o divino transcendente Conhecimento
sobre a terra atônita infame.

Do lodo da humanidade surge então o belo
elevado pelos ventos do poente
e do gerador do caos e inferno
em pranto e sangue arranque arrependimento

Ao eclodir enfim a beleza
purifique o ventre dos sete mares;
e nos abismos, na densa profundeza,
forme-se canto dos gemidos, poesia das lágrimas e sobre o hierofante caiam todos os pesares.



[Legenda: Sobre Cartas foi escrito em Setembro de 2004, e agora de forma aleatória ele aparece aí, quando nunca apareceu.]

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Barriga cheia.

Não foi a primeira vez.
De manhã, aquela sensação de quem tinha dormido demais e perdido o trem e alguma carona da vida. Teria então que esperar a próxima rodada.
Fazia tempo que não jogava jogos de tabuleiro, não gostava de jogos. No jogo, sempre alguém perde. Não que não gostasse de perder, mas achava que não deveriam haver perdas. Todo um universo meio infantil.
Levantou-se, comeu, se achou cheia do mundo todo como se tivesse cometido o maior dos excessos de gulodice, mas era só um copo de água com um pedaço de pão integral meio seco - mesmo assim.
Era dia de começar, limpar a casa, lavar as roupas, arrumar o quarto e botar as tarefas em dia. Tantas coisas a serem feitas no meio desses itens tão simples.

Aquela casa de hotel às vezes era desconfortável demais.

sábado, 22 de agosto de 2009

casca de ferida

eu sabia bem o que se passava. Ou ao menos achava que sabia.

havia uma desconexão, um desligamento abrupto e dolorido. Não era tão súbito assim, na verdade. Era um distanciamento que vinha crescendo há tempos, anos, … aquele era só o último puxão, o mais doído.
foi assim quando ele engravidou. Ficou grávido, fez casa e filho, nariz do pai.
Tire essa culpa enorme dos seus ombros, cresça, liberte-se – ele me instruiu. E nunca jamais lembre que eu existo.
mas eu lembrava – e as vezes quando ia dormir dizia seu nome antes de escorregar no sono.
tudo mudou daí. Voltei do outro lado da vida, lado da vida que eu não pertencia mas experimentei uma estação. Lembrei das palavras e não pude contar com o único apoio, um porto.
jangadeei à deriva, olhando a costa ao longe.
alegrei-me secretamente quando ele entrou na universidade federal para cursar biologia, coisa que ele sempre quis. Foi essa alegria que me mostrou o quanto queria que ele estivesse bem. Foi a última vez que sussurrei as três sílabas do seu nome.
Daí a calma sorriu no meu peito.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

All I Have To Do Is Dream

Versão do momento: Bob Dylan & George Harrison

"All I Have to Do Is Dream" is a popular song made famous by the Everly Brothers, written by the legendary husband and wife songwriting team Felice and Boudleaux Bryant, and published in 1958. The song is ranked #141 on the Rolling Stone magazine's list of The 500 Greatest Songs of All Time.


Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/All_I_Have_to_Do_Is_Dream - acesso em 20.08.2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

fundinho de leite que sobrou do sucrilhos

nem tudo eram linhas de amor, no entanto
tinha o poema sobre a menina que corria
....................................... com a estrela no peito pra alcançar
....................................... a pérola do fundo da bacia talhada
....................................... de nuvens cinza e azul

sábado, 1 de agosto de 2009

Sábado é um dia feliz

Estou confinada num mundo de silêncio. Num mundo de silêncio onde as palavras são proibidas para não soarem ingratidão. Estou novamente confinada num mundo de silêncio. Num mundo de silêncio de portas e janelas fechadas pra que a existência não incomode o inferno organizado lá fora. Sem opção fora daqui - por enquanto. (Ainda insisto em ter esperança.)
Aqui no mundo de silêncio meus gritos surdos não são mais solitários durante o dia. Tem as responsabilidadesexigências calar-a-boca pra comer e principalmente dar de comer. É uma vida, mal paga, mas vive-se.
Minhas idéias e imagens sofrem atentados todos os dias. As palavras que ouvimos violentam nossa calma.
Cala a boca cale essa boca fique quieta menina fique quieta sua fedelha.
No fundo no fundo talvez eu devesse ser grata por essas portas e janelas fechadas sobre nós. Talvez as palavras sejam só despeito e ingratidão.
Mas a comida, a casa e o conforto pesam amargo no estômago e corroem as entranhas.
...
Então eu sorrio e canto enquanto tento convencer a criança a terminar o jantar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

sábado, 11 de julho de 2009

Buscando nuvens

o céu desenhava formas de galeão
...................................................... transatlântico
............................................................................ avião
a s a s de n u ve m
avião
asas de nuvem esperando que as vestíssemos

e alçássemos vôo


o mundo a volta era só barulho
as paredes tremiam prestes a ruir
os estalidos estampidos tambores
rangidos berros assolavam os ouvidos


o galeão ao largo no momento de calmaria
logo mais a casa
desmoronaria

terça-feira, 7 de julho de 2009

Keane

queria falar do sorriso, mas não tem como. É indescritível.
falar da companhia, mas é inenarrável.
... do mal humor, é impagável.
... da dor de cabeça...

dessa aí eu posso falar...

pensando lembrando enquanto caminho pra onde ele está indo minha cabeça chega até doer. Aquela dor estranha que começa no fim das maçãs do rosto, no canto saindo dos olhos e ...
Dói.

ah e ele quando sorri, bem... . . . . mas é assim, meio pra baixo, sabe? Sei lá, o sorriso dele começa pra baixo. É é. O lábio superior meio virado pra baixo, meio um sorriso contido, daí termina num sorriso aberto, virado pra cima... vai entender. Ele é todo assim.
Vai ver que é assim só olhando de perfil, do jeito que é mais legal de olhar.
Se bem que de frente é bom também, bobo também. Mas daí não é o sorriso é o olhar dourado.


tudo dói
mas é dor boa, sabe? igual a dor de um tempo muito bem usado fazendo exercício... ou dor de cama...
dor é bom?

as vezes é sim.


ah, e Keane? lembra os serões de café internet relatórios besteiras animes lost miojo esperas banhos e garrafinhas de água

Michael Jackson

A verdade é que tudo isso é tão irreal que não me passa, nem na boca. É como se alguém me mandasse comer areia em vez de farofa. Já pensou areia com feijoada? - Não é das imagens mais bonitas...

A minha mãe lá passando roupa rodando toda aquela ladainha do funeral, as declarações, discursos, canções e homenagens póstumas.



Não.

Menina de mel

Minha cachinhos dourados só quer saber
de fazer bagunça e se molhar na água.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

serão de café

essa lua de creme me encara desvairada

um sim dois não

uma volta de manhã
dormir para acordar
saber sorrir na hora certa
......................... e abraçar

quero mesmo é saber como é que a gente faz
... se a gente faz

hoje amanhã e quando tivermos sessenta e quatro anos

terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma vez que não vou pra casa

De novo, pulsando, o desejo pelo mar. O ventre universal. Bom, universal em termos, afinal, era só talvez universal para os organismos da Terra, planeta.
Mas pulsava, e eram poucos minutos pra um pé na estrada e escorrer serra abaixo.
Poucos minutos não... uma eternidade... trocentos trezentos minutos.

Uma vez lar incogitável a possibilidade de outra viagem outra estrada a subida da serra até o momento que era inevitável e inadiável e logisticamente inviável estar ficar parar.

Pulsando o sonho pelo mar. Lá. Voltar para o lar.
Mas só tem lá pra mim, quando tiver lar lá pra mim.

Mar sempre vai ter.
Falta, falta faz mais que comida.
Mas vou ficar de jejum por esses dias, essa vez.

Mar sempre vai ter pra mim.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Terça-feira no DHb

Projetos 1 - Métodos Quantitativos em Análise Ambiental
"posso traçar reta para qualquer chuva de sal" - máxima de hoje, terça-feira, na aula de Profa. Dra. Andréa.
- o que foi isso? outra expressão tipicamente mineira?

domingo, 21 de junho de 2009

Give Me Love (Give Me Peace On Earth)

"Tudo pode acontecer.

Qualquer coisa.

Tudo muda o tempo todo.

E eu não quero a dor de pensar nisso."

Ela se enroscou nas barras do parapeito da escada. Apagou a luz. Queria vivenciar empiricamente a pressão da sombra. A tal da situação lúgubre ponto e vírgula ansiedade.

A pressão da sombra atua em sentido inverso nas diferentes espécies de almas. O homem, diante da noite, reconhece-se incompleto. Vê a obscuridade e sente a enfermidade. O céu negro é o homem cego. Entretanto, com a noite, o homem abate-se, ajoelha-se, prosterna-se, roja-se, arrasta-se para um buraco ou procura asas. Quase sempre quer fugir a essa presença informe do desconhecido.
Pergunta o que é; treme, curva-se, ignora; às vezes quer ir lá.

- Aonde? Lá? Que é que há lá?
Não sabia, queria, queria e iria. Sem futuros do subjuntivo. Ir. Sorrir. O sorriso de uma vida calma. Banhar-se em águas quentes e silenciosas, com todo o universo aberto a volta. Com a liberdade de tudo que é natural.

Não mais o gelo ventando no ventre como uma mão tentando arrancar a boca do estômago, não mais aquela tristeza medrosa que ela não conhecia direito. Não e não e não aos segundos arrastando-se como minutos vencidos.
Nada daquilo existia, era só um pouco de noite escura passada. A tristeza era feia e cheirava a bile. A espera era gelada e chorava para tentar imitar o silêncio.

Levantou a cabeça, criou asas. Inspirou toda aquela sombra e escuridão. Abertos os braços a porta se abriu.

Trying to, touch and reach you with,
heart and soul

quarta-feira, 17 de junho de 2009

óleo e estilete

cada canto
cada ponta
pe-da-ço

de imagem de cor clara cor pele de albrecht dürer

de vermelho de ocre e de terra queimada

reconheço

cada pedacin
nho

me irrita

reconheço
vejo de longe

belisca saber.

co-ça
machuca cutuca

incomoda reconhecer e saber.

ca da pe da ço de cor pe le albrecht dürer

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Desejos de outono

na verdade queria ter você hoje
nesse sábado a tarde (quieto) cheio de sol
chão morno sol quente, vento
................................................. corpos juntos
.
.
eu queria mesmo ter você agora
na manhã de domingo sonolenta
-- chão frio sol morno pele nua
.
.
a noite de outono, o vento açoitando
os vapores amores odores
a lâmpada acesa
.
.
.
abraço no sol
-- bei-
-jo
...?
...

(na cozinha)

As pessoas falam sozinhas
com as paredes com as janelas
as panelas

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Jelly bean

Dez horas da manhã centro da cidade dez graus centígrados dia dois de junho. Dia dois de junho e caçando uma alternativa ruas frias alternativamente vazias. Roupa? Vinho? O chá? A dor.
Tanta dor e frio. Frustração. Desânimo. Nomeei todos os parasitas.
Duas horas da tarde universidade federal doze graus centígrados. Os olhos ardendo não sei quantos graus de febre.
E da onde saiu essa febre?
Daquela prova entregue em branco para não insultar a insuficiência do professor com a incompetência do aluno?
Daquele dia azul sem chocolate e muita muita TPM.

Hoje não caio. Não caí. Sentei na calçada, tinha uma placa ao lado um ponto de ônibus uma mão solidária.
E daí já de pé observava os carros passando esperando o sinal abrir pra eu passar.
Passei, cheguei do outro lado da rua e o momento só já tinha passado também.
Lá na outra esquina, vestindo jeans azul intenso e blusa grafite desbotada.
E eu estava vestida de momento também.
(Todas as coisas passam, tudo passa, o segredo é passar sem deixar marcas profundas.)

Delicadas.
Outra terça feira que vai pro pote de vidro transparente.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mais uma terça-feira...

... na ponta de controle de crise.

Terça-feira dia de triste sol frio noite gelada sonolenta terça-feira noite de passeios na moto caminhadas janela fechada luz aceso-apagada.

O tanto que se torna um tanto um pouco maior que o tanto inicial.
E aquele olhar dourado ...
Mais um motivo.

E alguns elogios discretos.

----

E ontem, dia de Sol do tanto que cresce.
E não para. E se demora.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

[┼]

|as|barras|a|janela|a|grade|a|sombra|da|grade|
|as|barras|a|janela|o|vidro|a|sombra|da|grade|a|grade|
__________________________________________
|as|barras|a|janela|o|vidro|a|sombra|da|grade|a|grade|
__________________________________________
osfiospassandoláemcimavigiandoprontosaprenderateiaarede
__________________________________________
arededefiosprontapradesabarprenderconterseguradentrod
|as|barras|a|janela|o|vidro|a|sombra|da|grade|a|grade
__________________________________________
. o c h ã o e t é r e o é i n t a n g í v e l .

terça-feira, 26 de maio de 2009

uma data especial

... dentro de tantas outras datas especiais
Maëlys começa a pisar o mundo com seus próprios pés sem que mãos a sustentem! Que vida!!!
25.5.2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

tudo o que olha vê (não)sente

olhar olhar e olhar
jamais cansar de olhar
sentir sentir e ver
não-sentir-vidrar




Todo amor deriva do ato de ver: o amor inteligível do ato de ver inteligivelmente; o sensivel de ver sensivelmente.
- Giordano Bruno

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Arco-reflexo e um longo treinamento sob o olhar do escorpião.

"É como aquele ditado diz, uma pessoa burra procura problemas, e uma pessoa inteligente resolve os problemas."
-- e quem não faz nada sobre eles?
"Então, uma pessoa sábia evita problemas."
Foi quando ela parou, olhou, pensou e repensou
e respondeu arco-reflexo. O processo já era tão automático que não transparecia processo. Era arco-reflexo, parada-resposta.

Programas, planejamentos, hipóteses, sondar as entranhas e testar as conexões de cada idéia, cada ponta de dendrito, procedimento meticuloso realizado com o cuidado frio de um neurocirurgião. O treinamento longo e intenso tinha restado em toda a sua complexidade. E andar de bicicleta era ainda mais desafiador do que extrair uma amostra de pensamento tumoroso para análise.
A amostra contrariava a nula.
Mas aquela era a comprovação final. E a sua tarefa parou ali.
Por hora. Agora.
Tudo caminhara em acordo com o modelo. Sem grandes variâncias ou desvios.

Arco-reflexo:
-- então eu sou o problema?

domingo, 10 de maio de 2009

De uma terça ou quinta-feira

Projetos 1 - Métodos Quantitativos em Análise Ambiental
"Aprender dói! Depois que se aprende, fica gostoso!" - máxima de todas as aulas de Profa. Dra. Andréa.

Comunicado

Veio por meio desta comunicar a vossa pessoa que:
1. não reposicionei seu contato entre os favoritos do MSN;
2. não diferenciei seu toque dos demais contatos do meu aparelho celular;
3. não te associei a algum chamamento engraçadinho de humor duvidoso;
4. não descobri uma música que oh!, tem tudo a ver com a vossa pessoa próxima da minha;
5. não te compus um poema sentimentalóide.

Aproveitando esse espaço, esclareço que:
1. o principal intuito dessa lista de não-feitos é valorizar alguma surpresa proveniente da falta de pré-informação;
2. a ausência de uma canção ou poema provém do instinto de preservação de uma imagem não idealizada.

Convém ainda ressaltar que não é uma tecnologia qualquer que avisará sobre o quão cara e especial vossa pessoa me é, e tampouco há a necessidade de um mecanismo de ativação de memória para que me recorde de vossa pessoa e do todo que a rodeia.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

The Garden of Proserpine

Here, where the world is quiet;
Here, where all trouble seems
Dead winds' and spent waves' riot
In doubtful dreams of dreams;
I watch the green field growing
For reaping folk and sowing,
For harvest-time and mowing,
A sleepy world of streams.

I am tired of tears and laughter,
And men that laugh and weep;
Of what may come hereafter
For men that sow to reap:
I am weary of days and hours,
Blown buds of barren flowers,
Desires and dreams and powers
And everything but sleep.

Here life has death for neighbour,
And far from eye or ear
Wan waves and wet winds labour,
Weak ships and spirits steer;
They drive adrift, and whither
They wot not who make thither;
But no such winds blow hither,
And no such things grow here.

No growth of moor or coppice,
No heather-flower or vine,
But bloomless buds of poppies,
Green grapes of Proserpine,
Pale beds of blowing rushes
Where no leaf blooms or blushes
Save this whereout she crushes
For dead men deadly wine.

Pale, without name or number,
In fruitless fields of corn,
They bow themselves and slumber
All night till light is born;
And like a soul belated,
In hell and heaven unmated,
By cloud and mist abated
Comes out of darkness morn.

Though one were strong as seven,
He too with death shall dwell,
Nor wake with wings in heaven,
Nor weep for pains in hell;
Though one were fair as roses,
His beauty clouds and closes;
And well though love reposes,
In the end it is not well.

Pale, beyond porch and portal,
Crowned with calm leaves, she stands
Who gathers all things mortal
With cold immortal hands;
Her languid lips are sweeter
Than love's who fears to greet her
To men that mix and meet her
From many times and lands.

She waits for each and other,
She waits for all men born;
Forgets the earth her mother,
The life of fruits and corn;
And spring and seed and swallow
Take wing for her and follow
Where summer song rings hollow
And flowers are put to scorn.

There go the loves that wither,
The old loves with wearier wings;
And all dead years draw thither,
And all disastrous things;
Dead dreams of days forsaken,
Blind buds that snows have shaken,
Wild leaves that winds have taken,
Red strays of ruined springs.

We are not sure of sorrow,
And joy was never sure;
To-day will die to-morrow;
Time stoops to no man's lure;
And love, grown faint and fretful,
With lips but half regretful
Sighs, and with eyes forgetful
Weeps that no loves endure.

From too much love of living,
From hope and fear set free,
We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever;
That dead men rise up never;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea.

Then star nor sun shall waken,
Nor any change of light:
Nor sound of waters shaken,
Nor any sound or sight:
Nor wintry leaves nor vernal,
Nor days nor things diurnal;
Only the sleep eternal
In an eternal night.

Algernon Charles Swinburne

terça-feira, 5 de maio de 2009

Terça-feira

- terça-feira é o dia que se arrasta, a noite que grita.
Dia de faxina, de estatística, de saída, de corrida.

Em 2005 a kitnet ficava de pernas, as poucas que tinha, pro ar, e logo cheirava a incenso verde. Em 2006 não havia diferença nenhuma entre sábado ou terça-feira. Entre 2007 e 2009 os dias foram aos poucos tomando forma, e como passou rápido,e agora a semana está quase arrumada nas suas gavetas de arquivo do jeito certo. (Um desarranjo pequeno entre quintas-feiras e sábados, mas nada que não se ajeite!)


- mas se hoje é terça, amanhã é quarta-feira laboratório e sociologia.

A saída mais pedida pra hoje é, portan-to, o computador, os papéis e o edredon florido do quarto de criança.

domingo, 3 de maio de 2009

L E M B R A N Ç A

[Deu vontade de dizer que queria ter ficado mais tempo aí ontem. De repente deu saudade e quis ver e falar e ouvir você de novo.]
[Vai ver é só sono. Quando acordar hoje eu te conto.]




-- já tinha até esquecido que isso existia...

-- você passou no teste dos jacarés
(mas sempre tem um ainda)

-- e vai ver você sentiu alguma saudade também...

(1.5.2009)

Remnants

Situando, em tempo, conversando:

Poemas velhos e mofados


Blog velho e quebradinho

E agora, à coisa em si!