domingo, 29 de novembro de 2009

rua lavada

Chove. Passou de meia noite de sábado a noite.
-- Não consigo mesmo dormir, desisto, desisto.
Levanto e vou até o computador, a tela desprotegida inflama minhas pálpebras.

-- Vem cá, vem sair, vem sentir a temperatura da noite. O ar está tão mais limpo depois dessa chuva toda. Vem sair...

Os carros deslizam silenciosos no asfalto molhado. E cada pingo de árvore um susto. Faz tempo que eu não sinto frio. E ando devagar. Sentindo o efeito de cada passo.
--Aquele moço lá longe, ele tá me esperando. Mas está tão gostoso andar aqui na rua silenciosa.
A água percolando pelas frestas das calçadas, escorregando nos bueiros, parece uma serenata de fontes de consultório médico.

Tudo novo, tudo velho lavado.
-- Mas ele tá lá, me esperando, depois de tanto tempo?

Um sorriso, pelas frestas dos cílios molhados, dos cabelos bagunçados de vento. Tanta calma no perfume de lavanda e no resíduo de álcool.
Sempre preferi lavanda a rosas, cheiro de conhaque a cerveja.
-- E por que tantos fins depois de tantos tempos?
-- Nunca tivemos um começo, isso não é um fim, é um intervalo.
-- Jamais teremos.

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