sábado, 22 de agosto de 2009

casca de ferida

eu sabia bem o que se passava. Ou ao menos achava que sabia.

havia uma desconexão, um desligamento abrupto e dolorido. Não era tão súbito assim, na verdade. Era um distanciamento que vinha crescendo há tempos, anos, … aquele era só o último puxão, o mais doído.
foi assim quando ele engravidou. Ficou grávido, fez casa e filho, nariz do pai.
Tire essa culpa enorme dos seus ombros, cresça, liberte-se – ele me instruiu. E nunca jamais lembre que eu existo.
mas eu lembrava – e as vezes quando ia dormir dizia seu nome antes de escorregar no sono.
tudo mudou daí. Voltei do outro lado da vida, lado da vida que eu não pertencia mas experimentei uma estação. Lembrei das palavras e não pude contar com o único apoio, um porto.
jangadeei à deriva, olhando a costa ao longe.
alegrei-me secretamente quando ele entrou na universidade federal para cursar biologia, coisa que ele sempre quis. Foi essa alegria que me mostrou o quanto queria que ele estivesse bem. Foi a última vez que sussurrei as três sílabas do seu nome.
Daí a calma sorriu no meu peito.

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