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sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre Cartas

O belo fere meus sentidos
a cada nota que chega a meus ouvidos
A harmonia de cada nota crescente
em conflito com o Universo decadente...

Um conflito tão paradoxal equilibrado
objeto de obsessivos estudos e delírios
de seres céticos incompletos
a tudo que é mistério e improvável

Por todos aqueles que não se calam
Diante de respostas e teorias comprovadas
Por todos os que questionam e pesam
a própria essência na medida das estrelas

Alça voo agora um lamento
de uma alma perdida visionária
reflete-se para sempre num momento
dele a imagem materializada

Seja belo e digno do progenitor encontrar
além das tempestades de Órion
multiplique-se em ecos difusos
alcançando as fronteiras do eneágono.

Simetria enevoada e negra, viva, em expansão
que exige retrados pintados em sangue
tal como a filósofos e alquimistas, seja, em meu coração
Vossa voz uma aguda constante

Caído o báculo do hierofante
seja o mundo lapidado qual diamante
e sobre o pano negro do prisma sideral
veja gravada a poesia do ventre atemporal

Na luz do céu do Mensageiro
leia a virgem e derrame
o divino transcendente Conhecimento
sobre a terra atônita infame.

Do lodo da humanidade surge então o belo
elevado pelos ventos do poente
e do gerador do caos e inferno
em pranto e sangue arranque arrependimento

Ao eclodir enfim a beleza
purifique o ventre dos sete mares;
e nos abismos, na densa profundeza,
forme-se canto dos gemidos, poesia das lágrimas e sobre o hierofante caiam todos os pesares.



[Legenda: Sobre Cartas foi escrito em Setembro de 2004, e agora de forma aleatória ele aparece aí, quando nunca apareceu.]

sábado, 22 de agosto de 2009

casca de ferida

eu sabia bem o que se passava. Ou ao menos achava que sabia.

havia uma desconexão, um desligamento abrupto e dolorido. Não era tão súbito assim, na verdade. Era um distanciamento que vinha crescendo há tempos, anos, … aquele era só o último puxão, o mais doído.
foi assim quando ele engravidou. Ficou grávido, fez casa e filho, nariz do pai.
Tire essa culpa enorme dos seus ombros, cresça, liberte-se – ele me instruiu. E nunca jamais lembre que eu existo.
mas eu lembrava – e as vezes quando ia dormir dizia seu nome antes de escorregar no sono.
tudo mudou daí. Voltei do outro lado da vida, lado da vida que eu não pertencia mas experimentei uma estação. Lembrei das palavras e não pude contar com o único apoio, um porto.
jangadeei à deriva, olhando a costa ao longe.
alegrei-me secretamente quando ele entrou na universidade federal para cursar biologia, coisa que ele sempre quis. Foi essa alegria que me mostrou o quanto queria que ele estivesse bem. Foi a última vez que sussurrei as três sílabas do seu nome.
Daí a calma sorriu no meu peito.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Arco-reflexo e um longo treinamento sob o olhar do escorpião.

"É como aquele ditado diz, uma pessoa burra procura problemas, e uma pessoa inteligente resolve os problemas."
-- e quem não faz nada sobre eles?
"Então, uma pessoa sábia evita problemas."
Foi quando ela parou, olhou, pensou e repensou
e respondeu arco-reflexo. O processo já era tão automático que não transparecia processo. Era arco-reflexo, parada-resposta.

Programas, planejamentos, hipóteses, sondar as entranhas e testar as conexões de cada idéia, cada ponta de dendrito, procedimento meticuloso realizado com o cuidado frio de um neurocirurgião. O treinamento longo e intenso tinha restado em toda a sua complexidade. E andar de bicicleta era ainda mais desafiador do que extrair uma amostra de pensamento tumoroso para análise.
A amostra contrariava a nula.
Mas aquela era a comprovação final. E a sua tarefa parou ali.
Por hora. Agora.
Tudo caminhara em acordo com o modelo. Sem grandes variâncias ou desvios.

Arco-reflexo:
-- então eu sou o problema?