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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Batom e rosas

É... a vida é engraçada, ela me disse uma vez, "é estranho como a gente pode se apaixonar pela mesma pessoa várias vezes"- e eu olhava agora o batom que ela havia esquecido no meu carro.
Aquela história ainda ia longe...

Aqui, na estrada, eu sinto falta dela. Não que a estrada fosse nossa, não que fosse nossa do mesmo jeito, mas ela amava a estrada tanto quanto eu. Mas hoje não estou mais com ela.

As vezes eu abro aquela caixa encapada em papel quadriculado de azul e branco, e acho as fotos, os embrulhos de trufas, os cheiros, as cartas e as memórias tão apertadas... as viagens sem ela.

"Pro seu diário de viagens, escrevi um diário de saudades. Um dia eu te dou, talvez... se algum dia você quiser ler." Eu quero ler agora, eu quero ver agora o que você pensa.

Hoje é um dia que não posso telefonar para ela, hoje é um dia que eu não posso lembrar dela, e não posso ouvir as músicas que ela gostava, hoje é o dia que eu vou pra estrada.

Será que ela lembra o que eu lembro agora? Só lembro seu nome agora. Onde você foi?

domingo, 27 de março de 2011

wayward east havens

longo estupor causado pela dor, negação, agonia, desespero, abismo vê seu fim... a seca poeirenta recebe sua primeira leve chuva e prepara as sementes adormecidas para as monções.

o arco já curvado ao fogo dos anos preparado para o retesar do fio.

o invisível dos anos que nos costura e segura nossas células renovando-se ao longo da mesma frequência.

olho a porta, ela me olha, me conta que os ferrolhos não existem a maçaneta não arde em chamas o tapete de boas vindas recém colocado ressoa almíscar e absinto

quase vejo as flores brancas espalhadas prontas para enroscarem-se nos dedos dos pés ressecados da longa caminhada... o sal grosso incenso o vinho e o banho

olho para a porta percebendo que não lhe lembrava as cores, pronta para abraçar a minha temperatura

eu nada sei queria saber para brilhar seus olhos de interesse, mas eu ardo em sol, mais uma vez, envolta na luz que a estrada me deu... do core pulsante das estrelas

as sempre verdes bebendo do gotejar dos riachos prestes a desarolhar torrentes

agora que a areia me brilha na memória eu suponho entender porque o mar me parecia gelar o horizonte luzidio me empurrava a falar ainda não, agora eu posso segurar os que eu amo e falar vamos comigo, eu pareço tão feliz agora que a paz renovou minha pele e não vejo mais as cicatrizes que pareciam existir

o ruflar das velas sendo içadas gaivotas gritando da cidade da noite de verão todas as cidades são desse mar sem fim do fio que costura, podemos nos recolher ao reduto e todo o fio se desenrola de lá

terça-feira, 14 de setembro de 2010

o vazio

eu revolvia as pilhas de vazio acumulado para ver onde é que estavam as minhas pérolas.
naquela hora, deitada na cama, eu não sabia o que estava fazendo ali. escorrendo minhas paixões junto com o suor do verão fora de época.
eu eu e mais eu
se é que eu eu eu estava tentando provar alguma porcaria.

eu queria eram as minhas pérolas, o colar de bolinhas que eu tinha ganho com dez anos, o anel de rubi, o brinco de coral, o mar todo

eu queria cantar, mas não podia, porque o vazio não deixava. não conhecia mais nenhuma letra, porque o vento não soprava, e eu enjoava.
o sono me ajudava a amontoar o vazia, o sono me envolvia num casulo abafado e silencioso longe da dor e da náusea.

eu queria minhas pérolas, voltar pras minhas paixões, pros meus, pros meus amores eternamente platônicos, pra minhas rendas e sedas, pras minhas estrelas delicadas e cortinas bonitas.

revirando o vazio eu via o desespero de não ver. de não respirar no sono. de dormir o dia pra viver a noite.

aprendi o ódio. adoecido.

desaprendi.

aquela coisa toda cansava. o controle não era pra mim, mas era como se tivesse algo alienígena na minha cabeça. doía, se eu tentava fugir. afinal, eu gostava dele. ele me exigia, eu nunca tive sa-co pra exigir, eu sou mulher, eu eu eu detestava não poder e muitas vezes não querer não mais saber conversar com as outras pessoas e ele com as mil e uma amigas inseparáveis dele e cada vez mais o vazio aumentando.

eu queria jogar o vazio no fogo e mergulhar na piscina com as minhas pérolas.

daí eu fui embora.
o vazio é cheio de partículas, e as partículas são cheias de vazios que são cheias de outras coisas que não são partículas nem ondas nem vazio e as pérolas são cheias de microesferas de brilho e calor e som de ondas do mar onde as areias do fundo resplandecem ora com a luz da nossa estrela ora com as outras estrelas e planetas e satélites e os transatlânticos e petroleiros e barcos de pesca e as luzes do cais da ilha das estradas das casas e do fogo aceso com a panela fumegante de sopa de aspargos e o uísque tilintando no copo com gelo e a página de livro cheia de letras e as piadas e a grama cheirando orvalho da manhã e a maresia e a casa que sempre vai ser o território da minha paz silenciosa vazia de vazios.

terça-feira, 13 de julho de 2010

sono

não tenho tesão pela vida. nada. nada que me...
quando a chuva chove, eu escorro. tenho sono.

nada é tão sério assim. não é tão leve...

cama de flores, sol morno, vazio sem fim, tecido verde flocado

estirar sem fim de tédio amaciado.

as vezes a vida escorre lá fora e eu corro aqui dentro, pelas paredes manchadas e úmidas... as vezes eu deslizo aqui dentro no assoalho encerado no pó.

fico lá ...

sábado, 12 de junho de 2010

Garota bad trip

eu voltava pra casa a pé, como de costume.
tinha sido um dia cheio - casa, banco, papelada, trabalho trabalho trabalho.
foi aí que eu resolvi passar na frente da casa dela. afinal, era caminho.

eu passava lá na frente mesmo sabendo que ela não morava mais lá, eu passava lá na frente mesmo ela não sendo mais minha vizinha. não cruzava mais com ela na rua correndo pra faculdade enquanto eu corria pro trabalho.

ela foi a primeira menina legal que deu bola pra mim. meus colegas deram uma empurrada, claro, mas cara, ela tinha namorado, isso era fo-da.
pra ela, ela não estava nem aí. ela me queria justamente porque não queria o namorado. ela me queria porque queria se livrar do namorado por outro.

era isso que eu achava.

eu traí todas as minhas ex-namoradas por ela. ela também.
foi assim que começou. eu, ela e as amigas bêbadas dela. ela estava lá por outro - eu só estava lá por ela. os dezesseis anos dela me fascinavam, ela falava bonito, cantava pra mim, tinha aqueles olhos grandes cor de licor de chocolate, os cabelos dela tinham várias cores.

foi um dia de sol, sol, sol, lago e floresta. ela tinha medo das árvores, do vento, de tudo, e nada ao mesmo tempo, ela me botava medo e isso era só mais uma parte do charme. eu nem sei quantas vezes eu a beijei, nem sei se foi no bosque, na beira do lago, na praça, na rua, na escada... na esquina da casa dela.

logo depois terminou a primavera bonita, começou o verão veio janeiro e as chuvas. e ela voltou. sozinha, de vinho, bebendo frisante em garrafa de cerâmica. pra mim, três dias, três noites.

ela me deu minha primeira noite. eu fui o primeiro dela, mas e daí? ela só estava lá pra curtir. eu fui lá e me derramei sobre ela, e ela me deu as costas, fria, esvoaçante.

aquela garota é uma bad trip - que eu não canso de tentar repetir.

ano após ano eu a encontro, ano após anos nós nos encontramos. feito conjunção de planetas. mas é que às vezes a face dela está voltada para o outro lado. todo ano ela é minha, todo ano ela me escapa, todo ano eu me afasto dela. todo ano ela é minha.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Considerações Quânticas

ele escrevia mais rápido para ver se passava.
as milhas que deviam voar.
os números quânticos e as teorias materialistas, tudo é palpável, físico.
entre uma e outra garrafa de cachaça ele havia construído a graduação, agora velho ele buscava morrer mais devagar, escrevia embebido em vinho tinto e caro - nunca lhe passou deixar o álcool.
mas o espelho não mente.
havia o peso dos anos. a memória lhe pesava... a memória lhe pesava imenso.

deitou-se no sofá e olhou para suas meias brancas furadas. depois de velho - independente - ele ainda usava meias brancas furadas. ele ainda gostava de massagem nos pés... embora nesse momento não havia quem fizesse.

ainda tinha aquela história do velho Planck,
estirou-se no sofá de couro preto detonado - coisa de república. fez lembrar da república velha, dos amigos com quem cozinhava, e claro, jntava as moedas para mais uma garrafa de pinga... um deles estava na França, já lecionava?, o graaaaan-de Augusto.... esse tinha deixado a esposa e filha no Goiás para estudar na Universidade de São Paulo....
e ele, agora, longe da namorada e de seu filho, menino dele também... fazendo o que mesmo?
O que é que estou fazendo aqui agora?