quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Deságua

Está caindo o mundo aqui. Um dia, eu queria ficar junto com você enquanto a chuva cai forte como hoje.
Silêncio.
Tanta paz...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

noite de inverno

uma cadeira sentada
caneca tomada
todas as luzes incandescentes acesas
- brancas não, frias
janelas cerradas, vidros vedados

a cama vazia, a vela acesa, as leituras e o copo de vinho
esperam
esperam
esperam
o sono chega e o telefone não toca

o cheiro do chocolate com leite faz a noite se revolver

domingo, 20 de setembro de 2009

When the hounds of spring

When the hounds of spring are on winter's traces,
......... The mother of months in meadow or plain
Fills the shadows and windy places
......... With lisp of leaves and ripple of rain;
And the brown bright nightingale amorous
Is half assuaged by Itylus,
For the Thracian ships and the foreign faces,
........ The tongueless vigil, and all the pain.

Come with bows bent and emptying of quivers,
........ Maiden most perfect, lady of light,
With a noise of winds and many rivers,
........ With a clamor of waters, and with might;
Bind on thy sandals, O thou must fleet,
Over the splendor and the speed of thy feet;
For the faint east quickens, the wan west shivers,
........ Round the feet of the day and the feet of the night.

Where shall we find her, how shall we sing to her,
........ Fold our hands round her knees, and cling?
O that man's heart were as fire and could spring to her;
........ Fire, or the strength of the streams that spring!
For the stars and the winds are unto her
As raiment, as songs of the harps-player;
For the risen stars and the fallen cling to her,
......... And the southwest-wind and the west-wind sing.

For winter's rains and ruins are over,
........ And all the season of snows and sins;
The days dividing lover and lover,
........ The light that loses, the night that wins;
And time remembered is grief forgotten,
And frosts are slain and flowers begotten,
And in green underwood and cover
........ Blossom by blossom the spring begins.

The full streams feed on flower of rushes,
......... Ripe grasses trammel a travelling foot,
The faint fresh flame of the young years flushes
......... From leaf to flower and flower to fruit;
And fruit and leaf are as gold and fire,
And the oat is heard above the lyre,
And the hoofed heel of a satyr crushes
........ The chestnut-hust at the chestnut-root.

And Pan by noon and Bacchus by night,
........ Fleeter of foot than the fleet-foot kid,
Follows with dancing and fills with delight
........ The Maenad and the Bassarid;
And soft as lips that laugh and hide
The laughing leaves of the trees divide,
And screen from seeing and leave in sight:
........ The god pursuing, the maiden hid.

The ivy falls with the Bacchanal's hair
........ Over her eyebrows, hiding her eyes;
The wild vine slipping down leaves bare
........ Her bright breast shortening into sighs;
The wild vine slips with the weight of its leaves,
But the berried ivy catches and cleaves
To the limbs that glitter, the feet that scares
........ The wolf that follows, the fawn that flies.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Orquidário

Nada que queria, aquela hora eu pensei que queria era bolinho de chuva e chá, muito chá. Queria chuva talvez. Mais chá.
É tudo tão quentinho aqui. Quietinho. E a música toca.
Deito a cabeça no travesseiro de espuma vazada... e escorrego na madeira encerada. Areia molhada, folhas de hera, pés de jaca.
Pavimento de pedrinhas, pavimento de placas, poço tampado, penas de pavão, gansos cruzando grasnando. Araras. Borboletas. Eu não lembro se já então elas me assustavam.
Guarda-sol azul marinho. Suco de laranja com maçã e beterraba.
Valeu tudo isso?

A baleia de pedra. O trepa-trepa colorido. O barulho do mar. Cheiro de maresia. Expresso com chantilly.


E as caixas de sapato empilhadas no porto.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Arte

Uma caixa de lápis de cor e uma parede branca fazem qualquer criança feliz.
Ela e eu também.

Flores da saudade

Começou aquela manhã. Uma promoção incrível no supermercado: sabonete preferido pela metade do preço! Precisava. Comprei um só, se tivesse levado mais dinheiro comprava mais. Escolhi uma fragrância não habitual: "Flores da Primavera".
Já de noite - era domingo, cheio cansativo e modorrento - a água escorria mesclada a espuma do sabonete. A saudade veio com o perfume.

Saudade... tentei lembrar da saudade...

A roupa esperando sobre a cama, o copo de nutella pela metade de dry martini, o banheiro da república, do apartamento, da outra república, da casa onde eu tomava banho novamente.

Um tempo só meu aquele tempo - expectativa e bolo de chocolate com cereja, dry martini com cereja, correr os corredores da cidade nas noites quase mornas da primavera.

"For winter's rains and ruins are over;
....... And all the season of snows and sins;
The days dividing lover and lover,
....... The light that loses, the night that wins;
And time remembered is grief forgotten,
And frosts are slain and flowers begotten,
And in green underwood and cover
...... Blossom by blossom the spring begins."


Inalei fundo a fragrância que desprendia do sabonete - o cheiro residual do álcool utilizado no processo de fabricação me lembrou as faxinas de terça-feira.

Aquele banho estava era rendendo para a companhia paulista de força e luz.




sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre Cartas

O belo fere meus sentidos
a cada nota que chega a meus ouvidos
A harmonia de cada nota crescente
em conflito com o Universo decadente...

Um conflito tão paradoxal equilibrado
objeto de obsessivos estudos e delírios
de seres céticos incompletos
a tudo que é mistério e improvável

Por todos aqueles que não se calam
Diante de respostas e teorias comprovadas
Por todos os que questionam e pesam
a própria essência na medida das estrelas

Alça voo agora um lamento
de uma alma perdida visionária
reflete-se para sempre num momento
dele a imagem materializada

Seja belo e digno do progenitor encontrar
além das tempestades de Órion
multiplique-se em ecos difusos
alcançando as fronteiras do eneágono.

Simetria enevoada e negra, viva, em expansão
que exige retrados pintados em sangue
tal como a filósofos e alquimistas, seja, em meu coração
Vossa voz uma aguda constante

Caído o báculo do hierofante
seja o mundo lapidado qual diamante
e sobre o pano negro do prisma sideral
veja gravada a poesia do ventre atemporal

Na luz do céu do Mensageiro
leia a virgem e derrame
o divino transcendente Conhecimento
sobre a terra atônita infame.

Do lodo da humanidade surge então o belo
elevado pelos ventos do poente
e do gerador do caos e inferno
em pranto e sangue arranque arrependimento

Ao eclodir enfim a beleza
purifique o ventre dos sete mares;
e nos abismos, na densa profundeza,
forme-se canto dos gemidos, poesia das lágrimas e sobre o hierofante caiam todos os pesares.



[Legenda: Sobre Cartas foi escrito em Setembro de 2004, e agora de forma aleatória ele aparece aí, quando nunca apareceu.]