-- Vamo, levanta daí, vem logo.
E ele continuava estirado na rede, balançando preguiçosamente, queria saber onde, porque, num dava pra ser depois?
-- Não, num dá, vem logo, vem ver o mar comigo, vem logo.
...
-- Sabe, eu não entendo você, você é muito mística. Parece que tudo tem um significado pra você. Meu deus, ficar daquele jeito por conta de uma tempestade?
Meu bem, olha a neblina, num é linda, vem descendo a serra, tomando as ruas, não é demais? Se a gente for pra praia de novo, vai ver que ela está lá, rolando rolinhos em cima das ondas.
-- Mas como é que você consegue viver assim, acreditar assim, ver o mundo assim, como se tudo tivesse um outro significado, essa história do mar ser seu pai, do mar ser sua mãe...
Só sentir, sentir, ficar extasiada de tanto sentir... o mar é enorme, pulsa, duvido que você não sinta o pulso, não voe com o vento, não escorra com a chuva e não resplandeça com o sol, não sei como é possível não sentir.
...
Ele levantou botou os chinelos e eu já tava no portão, indo rua, de tijolos sextavados, tudo muito bonito. A areia assorriscava a perna, como é que ele não podia ver?
Sentir o cheiro de ozônio, as descargas elétricas pendentes, o céu alaranjando, as nuvens armando de trás da ilha.
Era um espetáculo que se formava, as ondas rebentando baixinho baixinho, mas rápido e forte. O vento carregado de gotas de água e sal, assoviando.
Ele segurou apertando a minha mão, jurava que não me entendia. Me joguei na água quente, que é que ele queria?
...
Depois, na rede, eu via a neblina descendo a serra. Nem sei se foi dia de Natal, ou véspera de Ano Novo, sei que foi lá pelos idos do solstício, na bainha do mar, no pé da serra.
É sempre gostoso poder escorrer com a chuva e sentir o açoite do vento. Mesmo que você não entenda, mesmo que você rejeite, você sente.
E ele continuava estirado na rede, balançando preguiçosamente, queria saber onde, porque, num dava pra ser depois?
-- Não, num dá, vem logo, vem ver o mar comigo, vem logo.
...
-- Sabe, eu não entendo você, você é muito mística. Parece que tudo tem um significado pra você. Meu deus, ficar daquele jeito por conta de uma tempestade?
Meu bem, olha a neblina, num é linda, vem descendo a serra, tomando as ruas, não é demais? Se a gente for pra praia de novo, vai ver que ela está lá, rolando rolinhos em cima das ondas.
-- Mas como é que você consegue viver assim, acreditar assim, ver o mundo assim, como se tudo tivesse um outro significado, essa história do mar ser seu pai, do mar ser sua mãe...
Só sentir, sentir, ficar extasiada de tanto sentir... o mar é enorme, pulsa, duvido que você não sinta o pulso, não voe com o vento, não escorra com a chuva e não resplandeça com o sol, não sei como é possível não sentir.
...
Ele levantou botou os chinelos e eu já tava no portão, indo rua, de tijolos sextavados, tudo muito bonito. A areia assorriscava a perna, como é que ele não podia ver?
Sentir o cheiro de ozônio, as descargas elétricas pendentes, o céu alaranjando, as nuvens armando de trás da ilha.
Era um espetáculo que se formava, as ondas rebentando baixinho baixinho, mas rápido e forte. O vento carregado de gotas de água e sal, assoviando.
Ele segurou apertando a minha mão, jurava que não me entendia. Me joguei na água quente, que é que ele queria?
...
Depois, na rede, eu via a neblina descendo a serra. Nem sei se foi dia de Natal, ou véspera de Ano Novo, sei que foi lá pelos idos do solstício, na bainha do mar, no pé da serra.
É sempre gostoso poder escorrer com a chuva e sentir o açoite do vento. Mesmo que você não entenda, mesmo que você rejeite, você sente.