segunda-feira, 30 de novembro de 2009

amie

sei que não deve ser muito importante, mas você tá acordado agora?
precisava ver você... você é tão lúcido

sei lá, a gente podia passar na praia pra pescar
a essa hora da noite mesmo
a gente nem nunca foi pra praia juntos

eu sinto a falta da sua voz e da sua risada debochada
do seu rosto de blush brisado
e do seu jeito de usar pérolas delicadas

sabe as nossas cartas em espirais?
papel roxo, red hot chili peppers



ah lembra? sentar embaixo da sombra na beira do lago
tirar fotos das folhas que se debruçavam por cima da gente
andar andar andar por aquelas quadras vazias que agora...
agora bem tem a praça, o posto, os prédios...


nunca me esqueci do que você me disse uma vez
só que naquela noite eu não ouvi.

pérolas na bacia

olha, eu to usando aquelas pérolas
mandaram de lá do fundo do sonhos
me leva pra conhecer
leva pra conhecer o fundo dos seus sonhos

antes eu estava tão cansada, mas olha
essas pérolas que estou usando agora
vem do fundo dos sonhos

e tudo que eu quero agora é estar com você

domingo, 29 de novembro de 2009

rua lavada

Chove. Passou de meia noite de sábado a noite.
-- Não consigo mesmo dormir, desisto, desisto.
Levanto e vou até o computador, a tela desprotegida inflama minhas pálpebras.

-- Vem cá, vem sair, vem sentir a temperatura da noite. O ar está tão mais limpo depois dessa chuva toda. Vem sair...

Os carros deslizam silenciosos no asfalto molhado. E cada pingo de árvore um susto. Faz tempo que eu não sinto frio. E ando devagar. Sentindo o efeito de cada passo.
--Aquele moço lá longe, ele tá me esperando. Mas está tão gostoso andar aqui na rua silenciosa.
A água percolando pelas frestas das calçadas, escorregando nos bueiros, parece uma serenata de fontes de consultório médico.

Tudo novo, tudo velho lavado.
-- Mas ele tá lá, me esperando, depois de tanto tempo?

Um sorriso, pelas frestas dos cílios molhados, dos cabelos bagunçados de vento. Tanta calma no perfume de lavanda e no resíduo de álcool.
Sempre preferi lavanda a rosas, cheiro de conhaque a cerveja.
-- E por que tantos fins depois de tantos tempos?
-- Nunca tivemos um começo, isso não é um fim, é um intervalo.
-- Jamais teremos.